Existem duas coisas que sempre vão nos acompanhar, independentemente de onde nosso trabalho chegar: o medo e a insegurança.
Sempre.
A gente vai se comparar com outros artistas, vai achar que mandou o trabalho errado para aquele edital, vai achar que não deveria ter falado aquilo que falou, ou postado aquela foto, ou vai ter inveja por não ter tido aquela ideia antes de fulano de tal.
Então, a parada é aprender a lidar com isso, e a não deixar que esses pensamentos derrubem a gente e, antes de tudo, tirem a potência do nosso trabalho.
Porque é isso: antes de tudo, vem o nosso trabalho.
Antes de quase tudo, pelo menos.
E a gente precisa acreditar nele de verdade!
Entender o lugar de onde a gente vem, compreender e escutar o trabalho de outros artistas e entender cada vez mais o chão que a gente pisa é muito importante até pra saber onde você quer ou não estar, pra onde você quer ou não ir e pra onde você quer ou não voltar.
Ter essa cozinha, essa base, esse chão bem claro em nossa cabeça é essencial pra quando a gente começar a pensar merda, porque a gente entende esse lugar que nos segura aqui.
E esse lugar vai além de um lugar geográfico. Pode ser um lugar afetivo, um lugar sentimental, um lugar subjetivo, um lugar que é uma casa, um grupo de pessoas, um bairro, uma cidade, um país, uma memória, uma bandeira ou um desejo.
Quanto mais acreditamos nas coisas que nos constroem, mais acreditamos em nós mesmos e no nosso trabalho, enriquecendo e fortalecendo aquilo que queremos dizer.
Porque o trabalho só não vem antes de tudo porque tem uma coisa que vem antes dele:
A nossa cabeça.
Cuide da sua cabeça, esteja bem, crie estratégias e mecanismos para deixar as demandas mais organizadas. Se organizar é muito importante. Muito mesmo.
Não caia naquela falácia de que o artista em caos e com um turbilhão de emoções é um artista melhor e mais intenso. Um artista com a cabeça boa é um artista intenso e vivaz.
Cuide de você, pense em você, esteja com quem você ama e com quem te faz bem.
Consuma o que você gosta, não deixe de ouvir suas músicas preferidas ou de ir aos lugares que te fazem bem para tentar passar uma imagem diferente do que você é.
É difícil à beça, mas tente ser você e fazer o possível para estar bem. E faça seu trabalho crescer e ter mais sentido por isso.
É aí que o trabalho fica honesto e sincero.
Veja um filme bobo, veja um desenho animado, coma uma besteira, faça uma piada besta. Não é só de documentário e Arte1 que vive a mente do palhaço.
Ainda mais porque, você sabe, sendo artista a gente está trabalhando 100% do tempo, mesmo quando não quer. Estamos sempre atentos, estamos sempre ouvindo, e às vezes vem um estalo quando você menos espera – pro bem e pro mal! Então, a gente precisa estar preparado, equilibrar esse tempo e esse desgaste da cabeça para conseguir potencializar o nosso trabalho em tudo que a gente fizer. Principalmente nos momentos em que não estivermos com ele na cabeça.
O respiro é uma brasa. É fundamental respirar para manter a chama acesa.
Respira.
Respira.
E vai.
Ou volta.
Mas não esquece de respirar de novo.
Ser artista é uma doideira federal, e um professor um dia me disse: “Se você puder não ser artista, não seja. Mas se você não conseguir não ser, então se permita ser de verdade!”.
Converse com seus amigos, escute outros artistas, exercite a escrita sobre o seu trabalho: escrever e falar sobre ele é sempre bom. Tá tendo dificuldade com alguma ideia? Pega o WhatsApp e manda um áudio pra você mesmo ou pra alguém em quem você tem confiança, falando de forma solta sobre o trabalho e a ideia que você está tendo. Vai falando sem pensar, jogando ideias e tudo aquilo que tem na sua mente.
Às vezes, a língua resolve o que tá embolado na cabeça. Bota pra fora que sai!
Falar e escutar. Tentando não esquecer de respirar.
Ser artista é meio que isso.
Às vezes, é muito mais. Mas, às vezes, também é muito menos.
Ah, e não esquece de beber água, porque também é muito importante.