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Oi, boas-vindas
à Mixtape #11

Meu nome é Giovanna Cianelli, e, toda semana, você vai receber uma playlist com músicas selecionadas a partir da minha pesquisa musical. A ideia é explorar sons de diferentes países, gêneros e épocas.

“Turn on, tune in, drop out.” A máxima de Timothy Leary ecoa como mantra nessa seleção que atravessa delírios elétricos, psicodelia vintage e devaneios sintéticos. A trilha perfeita pra dissolver as bordas da realidade — ou pelo menos dar uma passeada por outras camadas dela.
E por falar em viagem: no dia 19 de abril de 1943, o químico Albert Hofmann sintetizou o LSD pela primeira vez e, sem saber exatamente no que estava se metendo, decidiu voltar pra casa de bicicleta depois de testar a substância. O passeio pelas ruas da Basileia, na Suíça, se tornou histórico — hoje, a data é celebrada como o Dia da Bicicleta, um marco na história da lisergia. A arte de capa desta mixtape, inclusive, é de Brian Blomerth, artista que criou o livro Bicycle Day, e ilustra Hofmann e o descobrimento do LSD.
Tudo começa com Roland Vincent e "L.S.D. Partie", faixa instrumental francesa dos anos 1960 que soa como se o universo tivesse dado um passo em slow motion. 

Na sequência, os Talking Heads injetam ironia e groove com "Sugar on My Tongue", e Martin Rev, metade do duo Suicide, entrega "Secret Teardrops", um eletro-blues torto, carregado de melancolia sintética e reverberações que se arrastam como ecos mentais em loop.
A viagem segue com Fábio em "LSD Lindo Sonho Delirante", raridade brasileira dos anos 1970 que faz jus ao título. Continuando no fuzz, Thee Oh Sees trazem o caos controlado de "Enemy Destruct". Guitarras afiadas e bastante reverb: vou deixar como dica o vídeo da banda tocando na KEXP.
E aí vem ele: Paul McCartney, sim, o beatle, com "Check My Machine". Experimental, robótica e deliciosamente esquisita. Foi gravada no embalo do disco McCartney II, durante uma fase de isolamento e experimentação... lisérgica?

A próxima é Ramones com "7 and 7 Is", faixa que faz parte do álbum Acid Eaters, de 1993, um disco só de covers psicodélicos dos anos 1960 — uma verdadeira carta de amor da banda às suas influências mais lisérgicas. Aqui, tocam um cover da banda Love, injetando sua urgência característica em um clássico que já era caótico por natureza.
Canned Heat aparece com "Going Up the Country", hino não-oficial do Woodstock, o grande festival onde rolou um uso abrangente da substância. No documentário de 1969 (e, aliás, um dos mais lindos documentários sobre música que existe), é possível ouvir a organização alertar sobre um ácido marrom que está circulando e que não está tão bom para o uso.

A penúltima faixa é uma joia curiosa: Jim Henson, sim, o criador dos Muppets, narrando "Limbo: The Organized Mind", extraída do experimentalíssimo Manhattan Research Inc., de Raymond Scott. Uma ode à neurociência e ao pensamento fragmentado — quase um tratado do ácido disfarçado de faixa educacional.

Pra fechar, o clássico hipnótico de Nancy Sinatra e Lee Hazlewood, "Some Velvet Morning". Misteriosa, dual e completamente lisérgica em forma e conteúdo — perfeita pra deixar a porta entreaberta.

Dia 19 de abril, além do Dia da Bicicleta, é meu aniversário. E eu amo essa coincidência.
Espero que curtam a mixtape e até semana que vem :)